terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ambicioso, pobre, trabalhador e o pedante, rico, capitalista



Luis era um homem pobre que trabalhava em uma lavoura, como tantos outros por ai. Todos os dias, para não se perder na imensa plantação, ele colocava pedras para marcar seu caminho. Sempre utilizava 5 pedras, e de tempos em tempos, quando estava na hora da colheita, ele colocava as 5 pedras ao longo da jornada e caminhava seguro. Ao final dia, recebia de acordo com o que havia colhido. Nesse momento ficava, também, desapontado, já que seu salário era sempre tão ínfimo. O capitalista, dono da lavoura, era rico, o que era plenamente justificável, visto que lucrava com a exploração dos parvos miseráveis, nada extraordinário para o sistema.

Assim corriam os dias, até que Galdi, outro homem da lavoura, riu de Luis por ele colher sempre a mesma insignificante quantidade. Irritado Luis foi ousado aumentou o número de pedrinhas. No entanto, Galdi continuava a zombar impiedosamente. Então, Luis respirou fundo e aos poucos foi elevando as pedras que deixava pela estrada, logo, já passavam de 17. Sozinho em um raro instante de descanso, concluiu que quanto mais colhesse, mais receberia no final da safra.

O mês foi findando e o pobre trabalhador foi receber o que lhe era de direito. Reparou que a quantia não havia melhorado significativamente e não entendeu. Ao sair, olhou para um quadro, que ele nunca havia notado antes, lá estavam os nomes dos que colhiam mais, os melhores. Os salários deles eram quase três vezes maiores que o de Luis, ele saiu enfezado e foi pra casa.

No dia seguinte, a primeira providência que ele tomou foi observar seus colegas. Contou quantas pedras eles usavam e fazia questão de usar um número maior. Outro miserável viu o que Luis ia fazendo e tratou de espalhar mais pedras que ele. Portanto, colheu mais. Ao lado deste estava outro, que percebeu que os outros dois proletários iriam superá-lo. Revoltoso, fez o máximo que pode para não permitir o acontecimento. Como uma espécie de peste, que se alastra vertiginosamente, os demais se tornaram cada vez mais competitivos.

Empolgado Luis caminhava para receber seu pagamento, ciente de que o dinheiro que receberia seria tanto que ele mal saberia onde guardar. Quando finalmente pôs suas calejadas mãos nas sujas notas, percebeu que recebeu menos que o normal e seu nome não constava na lista dos melhores. Ele foi indo embora cabisbaixo e, parou com um berro dado pela secretária da remuneração. Ela apenas queria lhe informar que ele estava despedido, não havia lugar para incompetentes, improdutivos.

A safra do opulento fazendeiro bateu naquele mês todos os recordes . Sua produção teve um aproveitamento visível. E ele ficou reflexivo tentando entender como tudo ocorrera, uma vez que ele não fez novas contratações, não diminuiu os salários e nem aumentou a jornada de trabalho. Contente e bem pedante, foi andando orgulhoso pela fazenda e por sua capacidade, dita por ele mesmo, natural de lucrar com o trabalho alheio, mesmo involuntariamente.

O tolo capitalista ainda não possuía noção sobre a competitividade, alias ele possuía, mas a competitividade para ele restringia-se ao âmbito externo, fora de sua empresa, ou seja, ocorria entre outros capitalistas. Afundado em suas ilusões sobre o lucro e o capital deixou passar o principal aspecto do sistema.

Moral da história:

O lucro do capitalista transcende a exploração física. Na verdade, o melhor, encontra-se na exploração da competição, logo, do ego (do tolo).

2 comentários:

Priscila Nemer disse...

Seus dotes econômicos estão aflorando, quando conversamos sobre economia percebi o seu fascínio, porém depois de ler esse conto fiquei abismada, os conceitos que você definiu sem nomear ficaram perfeitamente compreensíveis, acho que eu não conseguiria organizar minhas idéias de tal maneira. Isso prova que Ricardo Amorim está fazendo muito bem a você. Daqui uns dias seus discursos estarão parecidíssimos com os dele. Mas pelo amor de Deus, esqueça o Diogo! rsrs

Lara Santos disse...

Obrigada,Ricardo Amorim realmente consegue melhorar o discurso econômico de qualquer um. Pedir para que eu esqueça o Diogo é loucura, gosto do jeito que ele escreve. Não consigo nem fazer algo similar, portanto, só observo e ADMIRO. ESQUECER ainda não está na lista de meus afazeres. rsrs

beijos
Muito obrigada por tudo.