Durante diferentes épocas do ano, Juvêncio deixa sua casa e segue para a lavoura, ficando muito tempo por lá. O pobre homem trabalha incontáveis árduas horas por dia e ao final de uma exaustiva jornada recebe seu ínfimo pagamento. Ele então deveria pegar esse dinheiro e comprar mantimentos para sua casa. No entanto, mais da metade dessa quantia era sempre gasta com bebidas. Alcoólatra, ele não poderia deixar de sustentar seu vício, portanto, consomia quase toda sua remuneração, que mal dava para alimentar sua família e, por vezes, sua mulher e filhos passam fome e necessidades.
Toda vez que Juvêncio ia receber o salário, observava seu patrão e deseja ter a vida que ele tinha.Roberto, o empregador, possuia vastas terras produtivas e muitas cabeças de gado. Era exatamente assim que o miserável trabalhador ansiava ser.
Todavia ele não sabia que Roberto era extremamente infeliz, mesmo sendo bem sucedido em seu trabalho, a vida não lhe sorriu em outros aspectos. Sua única filha adoecera e nenhum tratamento poderia curá-la. Em seus rompantes de loucura, o fazendeiro queria queimar tudo o que tinha e abandonar todas as suas posses, porque nada poderia salvar a vida da menina. A cada dia a dor desse homem aumentava e ele desejava morrer para, finalmente, encontrar sua mulher que, também, enferma faleceu ainda nova.
Uma vez por mês Roberto reunia-se com outros empresários da capital. Nesse período ele reencontrava um grande amigo, Walter, um executivo brilhante, que estava sempre com um sorriso radiante estampado no rosto. Nas visitas que Roberto fez a Walter ele pode notar que sua família era perfeita, uma linda e doce esposa e uma filha, ainda pequenina, porém extremamente adorável. Por diversas vezes, o triste homem chorou invejosamente, porque não foi agraciado como seu amigo, que além de feliz na sua vida profissional, também era na pessoal.
Certa feita, em um almoço, Walter confidenciou a seu amigo que o admirava por saber lidar com tantos ramos e, também, o invejava por ele saber administrar tantos funcionários. Desiludido Roberto nem chegou a sorrir mediante ao elogio, somente emendou dizendo que, na verdade, ele era um absoluto fracasso. Indignado o executivo chorou ao mencionar que o fracassado da mesa era ele próprio. Sem entender, o fazendeiro perguntou o que havia acontecido. Então Walter suspirou profundamente e contou que sua mulher estava indo embora de casa, ela queria a separação e iria levar sua filha com ela. Nesse momento, o homem debulhava-se em lágrimas dizendo que passou a maior parte de sua vida trabalhando, para tentar dar uma vida excelente para sua família, porém ao entregar-se a seus afazeres ele não percebeu o tempo passar e nem pode ver sua filha crescer. Hoje a menina, já com seus 5 anos, mal o chamava de pai.
Roberto voltou para casa no interior e, ainda estupefato com a conversa que tivera com o amigo, constatou que mesmo mediante a todas as suas dificuldades, ele aproveitou todos os momentos com sua esposa e filha e era, portanto, muito venturoso. Chegou a pensar que era feliz só por isso e depois de muito tempo sorriu.
Quando voltou a suas atividades na fazenda, um de seus empregados correu para avisar-lhe que encontrou um homem morto no canavial. Esse homem era Juvêncio, que depois de embebedar-se durante a tarde toda, caiu e por ali ficou até morrer. A esposa do alcoólatra estava em cima do corpo chorando e os cinco filhos pequenos só observavam. Aos prantos a mulher berrava que ele nunca foi homem pra nada, nunca levava dinheiro pra casa, um verdadeiro canalha
Roberto ao presenciar aquela cena e depois recordar-se de seu almoço com o amigo chorando, sentiu-se culpado por pensar que possuía uma vida complicada, refletiu que existem problemas muito piores que o dele, aliás, não existem piores nem maiores que os de ninguém. Cada um tem o seu e este é ruim para quem o tem. Talvez outros poderiam resolver melhor as complicações que Walter e Juvêncio possuíam na vida, mas esses outros também acham que possuem problemas insolúveis, que Walter e Juvêncio poderiam resolver rapidamente. É muito particular e específico, daí a crueldade das adversidades.
Todos têm problemas, porém é inato de cada ser humano achar que os seus são sempre maiores que os dos outros e ainda perdem tempo comparando e martirizando-se, ao invés de procurar maneiras plausíveis de solvê-los. Na verdade, os problemas, assim como muitas outras coisas, podem ser divididos e classificados entre: os que são difíceis e podem ser resolvidos com esforço, os simples que nós mesmos complicamos e, por fim, os mais penosos, numerosos e controversos que, em geral, possuem soluções inimagináveis ou facílimas de serem encontradas, estes são os problemas que nós mesmos criamos.
Acredite, passamos a maior parte de nossas vidas criando adversidades que nós teremos de enfrentar e algumas delas são tão árduas que podem destruir-nos por completo. Por isso, pense antes que criar um problemas, ele pode,sim, ser o último.
5 comentários:
Meus parabéns, esta postagem está bastante reflexiva. Muito boa mesmo, você está cada dia melhor!
Sempre me divirto muito quando passo por aqui e dessa vez você me surpreendeu, novamente. Simplesmente adorei essa reflexão e concordo plenamente com tudo o que está escrito nesse post. Gorota você é, de fato, sensacional
Parabéns de novo e de novo! Não me canso, juro!
beijo
=D
Extraordinário!
Obrigada Lúcia e Priscila! Por tudo, pela força e por acreditar tanto em mim. Talvez até mais do que eu!
E seja bem vindo Ricardo! Espero que goste e volte, viu?
Agora sou figurinha constrante por aqui. Já li todos os textos anteriores e espero hiperativamente pelas próximas postagens
Abraço!
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