Em uma fazenda invejável morava uma senhora, chamada Prudência, que vivia solitária. Ao longo de sua vida, ela plantou maravilhosas árvores, cultivou diversos tipos de alimentos e construiu, com muito esforço, uma enorme casa.
Entretanto, dentre todas essas conquistas, a que ela mais gostava de relembrar eram os animais. Durante sua infância e juventude, a corajosa mulher dedicou-se a caçar animais selvagens e a dominá-los. Hoje, como já era bem idosa, possuía uma extraordinária coleção de bichos de diferentes espécies e tamanhos.
Todas as manhãs Prudência visitava o estábulo, onde estava o belíssimo cavalo chamado Prosperidade, que pertencia a uma raça de eqüinos selvagens. Tinha muito orgulho de olhar para Prosperidade e ter certeza de que o animal estava, agora, sobre seu total controle.
Ao lado, havia uma grande gaiola, que mantinha em cárcere um cachorro admirável, o pêlo era longo e pintado, os olhos que eram ferozes, deram lugar para uma mansa expressão. Esse era o Sucesso, um cão que viveu durante muito tempo no mato, longe de qualquer sinal de gente e agora se encontrava cercado por intransponíveis grades metálicas. Todavia, prender esse violento animal não foi tarefa fácil, por causa dele sua mão direita havia sido cortada profundamente, sem nenhuma piedade.
Esses eram os seus preferidos, mas por lá havia outros seres: o coelho Realização, a águia Ambição e o peixe Saudade.
Contudo, mesmo tendo todos esses diversificados bichos ainda faltava um. A gata selvagem que ela nunca conseguiu apanhar, ela era sempre tão veloz, ficava pouco tempo no mesmo lugar e não se prendia a nada. A velha mulher não conseguia entender, porque não conseguia agarrar aquela inofensiva gata, que parecia mais uma bola de pêlo de tão pequena.
Certo dia, a incansável senhora resolveu sair à procura da felina. Deu voltas e voltas por toda propriedade e nada. Até que viu o pequeno amontoado de pelos atravessar o enorme matagal. Felicíssima a mulher avançou, correu o mais rápido que podia pelo emaranhado de grandes matos. Então, cansada, parou e respirou fundo e, também, se deu conta de que estava em um vasto campo, que não possuía nenhuma folha se quer.
Nesse exato momento, um homem de aparência medonha aproximava-se com a gatinha em seus sujos e enrugados braços. Esperando receber o bicho em suas mãos a mulher estendeu a mão, porém o homem sorriu e disse:
- Essa gata pertence a mim.
Indignada a mimada velha exaltou-se, dizendo:
Dê-me a gata, dou-lhe tudo o que quiser, sou dona de grandes propriedades e de belos animais.
Satisfeito com a proposta o rabugento senhor pronunciou sem nenhuma consideração a seguinte frase:
- Quero todos os seus animais, todos. Em troca dou-lhe o bichano.
Temerosa, mas radiante com a possibilidade de conquistar seu maior desafio, ela balançou a cabeça em sinal positivo e falou:
-Meu nome é Prudência, minha fazenda fica após esse matagal, o senhor pode pegar tudo o que quiser. Desde que me dê a gata!
O velho entregou a gata vagarosamente e ao mesmo tempo pronunciou, em um breve sussurro:
- O nome dela é Felicidade, cuide com muito carinho.
As palavras dele lhe davam arrepio. Ela pegou a gatinha e seguiu até o lago que ficava mais a frente e sentou-se.
O velho medonho foi afastando-se aos poucos, ao chegar ao sítio ele apoderou-se da Ambição, da Saudade, da Realização, do Sucesso e da Prosperidade e sem pegar mais nada foi embora, arrastando-se.
Contente, Prudência ficou sentada perto do lago, quietinha brincando com a dócil Felicidade. De repente, um jovem com profundas olheiras aproximou-se e abordou a.
- Ei! Era você que estava conversando com aquele abominável
-Sim, era eu! Mas não o conheço. Nem ao menos sei seu nome.
-Medo, o nome dele é Medo. Ele é um velho comerciante. Anos atrás eu troquei com ele essa gatinha, a Felicidade, por um passarinho o Efêmero, que depois foi embora. Hoje não tenho mais nada, só essa pombinha, a Tristeza, que ninguém quer trocar, por nada nesse mundo. O que você deu a ele para conseguir a gata?
-Entreguei o coelho Realização, a águia Ambição, o peixe Saudade, o cachorro Sucesso e o cavalo Prosperidade.
-Então o Medo passou a possuir a Realização, a Ambição, a Saudade, o Sucesso e a Prosperidade. Vai ser bem difícil conseguir tirar tanto dele. Mas você trocou tanto por apenas uma?
-Achei que valeu a pena. Afinal, mesmo tendo tudo o que tinha, ainda sentia que faltava alguma coisa para completar-me. Agora, finalmente, encontrei. Valeu a pena
O rapaz ergueu-se e com todo seu pesar foi indo embora. Prudência levantou-se e perguntou a ele qual era o seu nome.
- Meu nome é Covarde.
Ela tirou do bolso de seu vestido um inseto de cor verde e entregou ao moço, que espantado questionou
- O que é isso?
-A única coisa que o Medo não levou. Chama-se Esperança, deve ajudar você em alguma coisa
-Ele sorriu e foi embora
Com tudo isso que acabara de ocorrer Prudência chegou a conclusão de que a vida não era feita de conquistas e sim de trocas. A vida é, na verdade, um conjunto de grandes trocas, quem não é feliz é porque certamente não soube trocar.
5 comentários:
Simplesmente incrível Lara!!!
Sensacional...Bjus
Que alegoria legal! Tá ficando fera nessas narrativas, hem.
Muito bom! Adorei as matáforas.
Como já foi dito, incrível! Muito boa mesmo.
Amiga, só vi esse comentário agora! Obrigada
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